Nestes tempos difíceis em que, para evitar o contágio do corona vírus, devemos evitar a aproximação de pessoas, principalmente nos agrupamentos de pessoas, ficamos praticamente impedidos de praticar o sacramento da confissão.

Partimos da convicção de que “Deus é Amor”, nos cria por amor e para o amor, e que “não tem nenhum prazer que o pecador morra, mas quer que se converta e viva” (Ez 33, 11), como também quer “misericórdia e não sacrifícios” (Mt 9,13; Os 6,6), confiamos que Deus já nos perdoou antes mesmo de termos pecado (Rm 5,8). Mas, para haver reconciliação, não basta haver o perdão dado por Deus, é preciso irmos ao encontro dEle, para que o recebamos. Quem, deliberadamente rompeu com a relação de amor, mesmo que jamais se rompa do lado de Deus, deve deliberar a sua própria recondução na direção desta mesma relação.
Após a sua Ressurreição, o primeiro dom que o Senhor dá aos seus discípulos é o dom e a missão do perdão. Na mesma noite que seguiu o mesmo dia, “os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. (…) disse: Como o Pai me enviou também eu vos envio. Então, soprou sobre eles e disse: recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados, a quem os retiverdes, lhes serão retidos.” (Jo 20,19-23).
A Igreja, portanto, foi “soprada” para transmitir o perdão. Daí, o Batismo existe para o perdão dos pecados, e a Eucaristia é o Corpo dado por nós, o Sangue derramado por nós, “para remissão dos pecados”. Tudo, portanto, na Igreja, é para o perdão.
Se o perdão é tão essencial na nossa fé, Deus não coloca dificuldade alguma para dá-lo a nós. Se há algum empecilho, é da nossa parte. Quais serão esses empecilhos? Não estarmos arrependidos, ter algum apego ao pecado. Se fizermos, portanto, uma contrição perfeita, isto é, tomarmos consciência dos nossos pecados e deles nos arrependermos por amor a Deus e aos Irmãos, podemos confiar na reconciliação. Isso não diminui a importância do Sacramento da Reconciliação, pois esta contrição nos levará ao sacramento.
No seu livro “A Lei de Cristo”, o padre Bernardo Haering escreve: “Depois da salvação recebida no batismo, o cristão não deveria ter necessidade de um outro sacramento de conversão. A consagração batismal e a união a Cristo na santa Eucaristia são em si mesmas absolutamente irrevogáveis (1Jo 3,9; 5,18). Renegá-las, furtar-se inteiramente a Cristo após ter recebido o batismo e os demais sacramentos de iniciação – tal queda parece irreparável, a menos que surja um milagre assombroso da misericórdia divina.” Esse milagre é-nos dado no sacramento da “confissão” aliás da “reconciliação”. Pois, além do perdão divino, esta busca nossa do perdão, é que permite uma verdadeira reconciliação.
Além da graça comum do batismo, além do dom preciosíssimo do martírio no qual uma pessoa é batizada no seu próprio sangue, existem ainda numerosos ‘frutos de penitência’, proporcionando todos eles a expiação dos nossos crimes. Com efeito, a salvação eterna não é prometida somente àquele que faz penitência no sentido próprio do termo, isto é, por meio da penitência sacramental. A Bíblia cita:
- A CARIDADE cobre igualmente uma multidão de pecados (1Pd 4,8);
- Como a água extingue o fogo, A ESMOLA extingue o pecado (Eclo 3,33)
- AS LÁGRIMAS, da mesma forma, podem lavar a imundície das nossas faltas (Sl 6, 7-9);
- A CONFISSÃO que se faz dos crimes tem o dom de apaga-los (Sl 32,5; Is 43,26);
- Obtém-se ainda a remissão de nossas culpas mediante A AFLIÇÃO DO CORAÇÃO E DO CORPO (Sl 25,18);
- E sobretudo pela EMENDA DE VIDA (Is 1, 16-18);
- Por vezes, é a INTERCESSÃO DOS SANTOS que alcança o perdão das nossas faltas (1Jo 5,16; Tg 5,14-15);
- Ou ainda, A MISERICÓRDIA E A FÉ (Pr 15,27);
- Habitualmente, aquele que CONVERTEU UM PECADOR salvará essa alma da morte eterna e cobrirá a multidão de seus próprios pecados (Tg 5,20);
- Enfim, SE VÓS PERDOARDES AOS HOMENS OS SEUS DELITOS, também o vosso Pai Celeste vos perdoará (Mt 6,14).
Vocês vêm quantas aberturas a clemência do Salvador nos preparou para a sua misericórdia, a fim de que nenhum daqueles que desejam a salvação se deixe abater pelo desânimo, quando tantos remédios o chamam à vida…
Padre PAULO AUGUSTO MILAGRES RODRIGUES